6 de ago. de 2014

MORTE E VIDA


                         
                                                              




A madrugada estava clara.
A Lua iluminava o lugar como se estivesse procurando alguma coisa.
E aproveitei para subir as pedras.
Chegando no ponto mais alto, sentei para descansar com meus pensamentos.

Acendi um cigarro. Cheiro de fumaça. Sabor de fumaça.
E me atirei dentro dela.
Fiz muito barulho quando cutuquei as lembranças e acabei acordando a saudade.
Mas não importava.
Uma enorme vontade de não ter vontade de fazer nada...

Apenas minha boca, criando vida própria, desembestou a falar procurando
testemunhas para o seu desabafo.
O corpo continuava inerte.


                            


Sabe, morrer de amor é muito doloroso.
Quando descobre que está contaminado já não há retrocesso. É letal!
Penetra em seus poros muito vagarosamente, até surgirem os primeiros calafrios.
Você começa a rir à toa, suspira a cada cinco minutos, fica distraído com as
coisas que passam à sua volta e se acha a pessoa mais sortuda do Universo.

Depois desses primeiros sintomas, o veneno continua te consumindo até chegar
ao cérebro... começa a ver as pessoas mais bonitas do que realmente são, abre
a janela e consegue ver o Sol cantarolando sem parar, olha para o espelho e vê
alguém mais feliz do que você mesmo.

Está praticamente liquidado, mas não para por aí.
O Amor continua te consumindo até chegar ao coração.
Depois dos primeiros calafrios seguidos de alucinações torpes, vem a execução.
O veneno finaliza com escárnio...
É como um raio iluminando a escuridão de uma tempestade.
Rápido e impiedoso.

Você não sabe, mas já está morto.
Pode até sentir o calor do Inferno te bronzeando.
Mas você não acredita.
Não acredita porque mesmo morto, ainda pode sentir dor, tristeza, saudade.
Mesmo morto, ainda consegue chorar e sentir as lágrimas que ardem.
Mesmo morto, você tem vontade de morrer!

Outro cigarro. Outro silêncio. Agora, sem devaneios.
Somente um silêncio sem fim.
Um silêncio muito longo.
De eternidade. De luto. Até mesmo ensurdecedor...


                         


Foi quando o silêncio implorou para ser quebrado, fazendo o nada estremecer tudo.
Um vulcão de quietude entrando em erupção.
Incontrolável... Insuportável... Incandescente...
A Morte se contorcendo, querendo reverter o consumado.

Não deu para reter o grito.
E gritei... Alto. Demorado. Desesperado. Apaixonado...
Para soltar de vez toda a saudade que estava me preenchendo por inteiro.
Um grito dolorido e de paz. De orgulho e de paz.
Um grito de raiva, mas um grito de paz...
Que ecoou e pousou manso sobre o rio que deslizava lá embaixo.

Troquei a saudade por mim.
Troquei a Morte pelo Renascimento.
Ponho as mãos no peito e rasgo a minha camisa com força, desnudando o
coração contaminado.
É preciso extrair todo o pus, a secreção contida há muito tempo.
O coração, vencido, não mostra resistência.
O corpo vai se renovando a medida que a podridão fétida vai se esvaindo.
Preciso me sentir limpo.
Agora tenho pressa.

Desintoxicação...

Ei, estão me ouvindo? Estão me vendo?
Vocês estão presenciando um parto!
Estou nascendo de novo!

O vento se agitou, as árvores cochicharam entre si balançando de um
lado para o outro, a Lua ficou de boca aberta e as Estrelas piscaram
demonstrando aprovação.
Agora somos uma família!

Assim, um novo dia surgiu com uma nova vida.
Adeus, Mundo Velho!
Bom dia, Mundo Novo!

A partir de hoje, eu faço parte de você!


                           


___________________________________________________________ by N.N.



Era uma vez, o fim de um relacionamento.
Quando o velho amor teimou em não me abandonar, permiti que me consumisse.
Só assim poderia renascer para uma vida nova e saudável.

Quando não conseguimos espantar a tristeza, é melhor aceitá-la para que
cumpra logo a sua jornada.
Assim, não damos chance para a tristeza retornar cobrando antigas pendências.
E quando ela vai embora, o coração sente o sopro da liberdade e volta a sorrir,
pulsando com mais força e determinação.

Nessa vida podemos morrer muitas vezes de formas diferentes.
Renovações que se desdobram como origamis.
                                Porém, qualquer que seja a Morte em questão,
                                                         iremos sempre renascer com mais vigor...




_______________________________________________________________ by N.N.