28 de jan. de 2014

PRIOSIONEIRO



             

                                      


            
 
Um olhar curioso na janela.
Lá fora, as estrelas estão sorrindo felizes,
brilhando esperança, alimentando milhões de almas.
Aqui dentro não há estrelas.
A noite invade sem cerimônia preenchendo toda a minha volta.
Mas não há estrelas...
Do lado de cá não há nada.
Ou melhor, existe a noite, um imenso deserto e eu.
Gosto de olhar para fora.
Lá, as estrelas parecem querer conversar comigo.
Será que um dia conseguirei cativá-las?
Será que um dia poderei convidá-las a entrar?
E se aceitarem, será que se sentirão felizes aqui dentro?
Existem grades na janela. Grossas grades.
Tão duras e resistentes como a mais poderosa das rochas.

Aqui dentro não há estrelas.
Há apenas o deserto, a noite e eu.
O deserto é imponente.
Sabe se vestir conforme a sua vontade.
Está sempre mudando as suas formas.
Seu corpo compõe um belo desenho de dunas.
Belas dunas... belas curvas...
Mas rapidamente muda o seu perfil com outras novas dunas.
Belas e novas curvas...
É perigoso desafiar o deserto.
Ele pode te engolir, pode te tragar.
Você pode não encontrar mais a sua janela.
E sem janela, não dá para ver as estrelas.
Será que posso confiar no deserto?
Será que posso encontrar uma outra janela sem grades?
E se encontrar uma porta, será que poderei abri-la?

A noite toma conta do deserto.
Ela não se perde em suas dunas.
Não tem medo de não achar uma porta ou uma janela.
Ela percorre todo o seu corpo...
Acariciando cada curva, acompanhando cada mudança,
saboreando sem sustos suas belas formas.
A noite é sinistra... misteriosa... inquieta...
Será que posso encontrar alguma luz na escuridão?
Será que posso descobrir onde o sol descansa?
Será que posso alcançar um novo dia nessa caminhada?
E se chegar um novo dia, será que acordarei feliz?

Tantas perguntas sem respostas... tantas indecisões...
E eu aqui... junto com a noite e observando as estrelas...
querendo conversar com elas agarrado à uma janela com grossas grades...

Solidão... o próprio nome é um aumentativo.
O próprio nome assusta.
Uma ilha rodeada por nada.
Sem horizontes. Sem brilho. Sem planos.
Ou melhor, uma ilha rodeada por um deserto, a noite e
uma janela com grossas grades.

Será que existem outras pessoas no deserto?
Será que há alguém na noite procurando por uma janela?
Será que encontrarei a minha semente
escondida em alguma curva do deserto?
E se encontrar, será que saberei cuidá-la?

Não sei... o que sei é que preciso acreditar mais no deserto,
na noite e ir em busca das estrelas...
Está chegando o dia em que vou largar as grades,
berrar até perder a voz e correr.
Correr muito! Por todo o corpo do deserto como a noite faz.
Não terei medo de tropeçar nem de me perder.
Não terei medo de não achar a minha janela,
pois acharei uma porta.
E por trás dela descobrirei a luz de um novo dia.
E nesse dia acordarei feliz!
Feliz por ter coragem.
Feliz por ter orgulho de mim mesmo!
Não terei medo de chamar as estrelas para conversar banalidades.
Não terei medo de chorar para regar a minha semente.
E dessa semente brotará uma flor.
E essa flor brilhará tanto
que verei o meu próprio sorriso refletindo em cada pétala.
Crescerei. Aprenderei.
E saberei lidar com meus próprios erros.

Tudo isso não vai demorar...
Mas por enquanto estou preso,
                                             aprisionado por mim mesmo...


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Artistas Principais:

- A Janela.............................. minha insegurança
- As Grades............................meus medos
- O Deserto............................minha vida
- A Noite................................meu coração
- As Estrelas...........................meus sonhos
- A Semente...........................um amor distante


___________________________________________________________ by N.N.